Poema da carnificina

 

Eu corri mas foi só um pouquinho
no meu mês cardíaco com o cadarço solto
garanti minha opinião
no país em que ter opinião é cafonérrimo
me reservei a liberdade de não me expressar.
Tudo bem? Como vai?
Eu sumi, você também.
Como vai tudo por aí?
(não me responda;
sabemos que o tempo do outro é precioso demais
para fotografias não-instantâneas;
eu poderia ter morrido em cada um desses 12709 dias
e pode acontecer no meio do verso que se segue)
Deixo um comentário na foto que você postou no dez de janeiro
e só nos encontramos três redes depois,
numa rodoviária de ônibus movido a um novo combustível
na estrada esburacada do vigésimo primeiro
no posto de gasolina ou num natal de monitores.
Até lá
instrumento minha audição
sem saber se fiz alguma coisa da Psicologia;
documentos futuros; filhas de amigos que não vi mais;
óbitos; premiações; dossiês no Escavador.com e Jus.Brasil;
127090 cigarros e vinte guias de atendimento
no ano em que nos atentamos ao Corpo.
Rezo ainda sem saber ao quê
e faço zine quando quero te contar de uma saudade.

Nenhum comentário: