Caminho rumo a quatro árvores
as mesmas árvores rumo às quais caminhei hoje
são as árvores rumo às quais caminharei amanhã.
Fiz um desenho na minha cabeça, por quinze minutos.
Um ziguezague de pontos pontos os mesmos pontos de antes
os mesmos pontos do dia
os mesmos pontos de quando estava em casa
os STASI. Sem êxtase.
Alucinei no Pi. Fiz equações em mim mesmo.
Multipliquei resultados que encontrei
não sei onde, nos fundos dos bolsos
e removi a pulseira
para recolocá-la posteriormente.
Eu trago tudo para cá:
São José, o carpinteiro, trago para cá.
Coloco no carro comigo, coloco no cigarro comigo.
Junto com Daphne Oram, coloco no carro comigo.
Caminhamos de carro.
Aonde chegaremos resta saber.
Temos meia hora e o tempo já está correndo.
Quero saber se a inquilina debaixo de mim
se incomodará com meu ventilador
até o fim dos tempos.
Mas entendo que o negócio é uma turbina.
Tenho um poema para enviar à Piauí.
Mas entendo que não cabe na bobina.
Escrevo cânticos com lápis e apago,
os tristes, reescrevo bonitos, escrevo em mim o nome
de quem digo a quem pertenço.
Queria comer uma jantinha.
Pensei num cara de um date hipster
que quando levasse a menina pra sair
levasse ela pra comer uma jantinha.
Que decepção seria.
Mas a jantinha era boa, tinha bons molhos.
Que decepção seria.
Se eu nascesse Wandinha.
E sem varinha não tivesse a desculpinha
para ser assim, quarta-feirado,
inflamado, com a asa arrancada.
Eu sou um anjo com as asas podadas.
E meu nome está numa lista.
Meu nome está numa lista e nela pertenço.
Meu nome está numa lista e nela me teço.
De terça a sexta tocando os sinos.
Ring your bells. Ring your bells.
Christ is coming. Ring your bells.
Minha parafernália musical está apenas começando
e talvez eu seja um trineto de Hermeto
tímido
ainda sem cassetes
quem sabe eu não escreva um dia uma carta para vocês
de longe
mais longe do que os Estados deste espaço
de mais longe que os olhos podem ver
quem sabe eu não receba uma carta sua
me chamando atenção no meu processo de
desistir de insistir
Quem sabe eu não seja um dia da semana
e me vista da cor que quiser
neste dia da semana
inclusive a cor translúcida
Eu peço que você tenha lido bastante coisa para chegar até aqui
Mas sabemos que o que você lerá é muito pouco
e que o que eu li é muito pouco
se comparado com o que os psicanalistas esperam de nós
Sabemos que há diferentes níveis de
hierarquia de níveis
na fauna literata deste local
e que até hoje
muitos de nós não tiveram a ousadia
de ler Grande Sertão Veredas
ou de terminar o Ulysses
ou de ler uma Antologia Poética qualquer
Eu já tenho o meu brinde
e o deposito dentro do copo
enquanto aguardo por você
que não me lerá, se Deus assim quiser
pois fico perdido em brincadeiras textuais
ao som de Daphne Oram
Isto aqui deveria ser uma prece
e será apreciado por
quem merece
pois o esforço que eu fiz hoje
foi só por mim
e as voltas que eu suei
foi só em mim
e a missa que eu vou
só vou a mim
E se eu me juntar a um culto
juro que não deixo oculto
minha predileção por
alguma comunidade
E se eu ficar sozinho
não, não ficarei sozinho
Pois receberei uma carta sua, de longe,
de mais longe que os Estados deste lugar
me convidando a ficar.
Me lembro de quando um de nós escrevia
que ia à missa num poema
e o outro respondia
em outro poema
Não vá à missa, amigo meu,
meu irmão,
cante comigo canções determinadas
importadas da bandeira portuguesa
pegue a minha mão
e agora pegue em nada no ar
pois minha mão já está pegando em outro ar
e a pessoa nem ia à missa
nem tinha mão para pegar.
E se eu ficar sozinho
não, não ficarei sozinho.
Pois receberei uma carta sua, de longe,
de mais longe que os estados deste lugar
me convidando a pousar a cabeça
no seu colo
onde eu posso ser um dia da semana.
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